Líder supremo do Irã proíbe vacinas dos EUA e Reino Unido
Em meio a relações tensas com
Washington e Londres, aiatolá Ali Khamenei afirma que imunizantes desses países
não são confiáveis e poderiam "contaminar outras nações".
Aiatóla Ali Khamenei diz que vacina produzida por cientistas iranianos é "orgulho e honra para o país" |
O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, anunciou nesta sexta-feira (08/01) que a importação de vacinas americanas e britânicas contra a covid-19 está proibida no país, ao mesmo tempo em que exaltou o imunizante que está sendo desenvolvido por cientistas iranianos.
Segundo Khamenei, as vacinas
desses dois países são "completamente não confiáveis. Não é improvável que
eles queiram contaminar outras nações", afirmou, em pronunciamento
transmitido pelas emissoras iranianas.
"Se a fábrica da Pfizer pode
produzir qualquer vacina, eles [Estados Unidos] devem primeiro consumi-la eles
próprios para que em 24 horas não tenham 4 mil mortes. O mesmo vale para o
Reino Unido", afirmou Khamenei.
O aiatolá se referia à alta
contagem diária de óbitos registrada nos EUA na quinta-feira, e à variante do
coronavírus que desencadeou uma nova onda de infecções em solo britânico e se
espalhou para outros países.
"Dada a nossa experiência
com o envio de remessas a partir da França de sangue contaminado com HIV,
vacinas francesas também não são confiáveis", acrescentou, ao se referir a
um escândalo ocorrido entre os anos 1980 e 1990.
Sua declaração, porém, também
possui forte caráter político, levando em conta a relação conflituosa que
Teerã mantém com Washington e Londres.
As vacinas que já foram
autorizadas nos países ocidentais são a da farmacêutica americana Pfizer,
desenvolvida em conjunto com a empresa alemã de biotecnologia Biontech, e a da
americana Moderna.
Vacina iraniana
Em dezembro, o Ministério da
Saúde do Irã informou que as primeiras vacinas que chegariam ao país seriam por
meio de compras diretas de outra nação. O veto de Khamenei aos imunizantes
americanos e britânicos indica que esse país deve ser a Rússia ou a China,
além do consórcio internacional de distribuição de imunizantes Covax Facility.
Em 29 de dezembro, o Irã deu
início à primeira fase do ensaio clínico de sua vacina contra a covid-19.
Khamenei disse que o desenvolvimento de um imunizante pelos cientistas
iranianos é "um orgulho e uma honra para o país".
A vacina, chamada COV Iran
Barkat, é produzida pela farmacêutica Shifa Pharmed e deve ser aplicada em duas
doses, com intervalo de 14 dias. O governo afirma que o imunizante deverá
ajudar o país a derrotar o coronavírus, apesar das sanções impostas pelos EUA
que prejudicam a capacidade iraniana de importar vacinas.
O Irã também desenvolve pesquisas
sobre vacinas em parceria com Cuba. Atualmente, a vacina cubana está na segunda
fase do ensaio clínico. Se tiver êxito, a terceira fase deve ser realizada no
Irã.
Até o momento, o Irã acumula
1.268.263 infecções e 55.993 mortes associadas ao coronavírus.
Acordo nuclear no centro das
tensões
As tensões entre Teerã e
Washington se agravaram a partir de 2018, quando o presidente dos EUA, Donald
Trump, retirou seu país do acordo nuclear firmado em 2015 entre a
República Islâmica e o grupo dos países G5+1 (França, Reino Unido, Alemanha,
China, Rússia e Estados Unidos).
Desde então, os EUA reimpuseram
pesadas sanções econômicas para pressionar os iranianos a aceitar restrições
ainda mais rígidas ao seus programas nuclear e de mísseis balísticos, além de
cessar o apoio a forças regionais hostis aos americanos.
Em retaliação, o Irã promove
violações graduais ao acordo nuclear. No início do ano, o país comunicou à
Organização Internacional de Energia Atômica (OIEA) que planeja produzir
urânio enriquecido a 20%, um nível muito superior ao estabelecido pelo
pacto de 2015.
O presidente eleito dos EUA, Joe
Biden, prometeu trazer seu país de volta ao acordo, contanto que os iranianos
retomem seu comprometimento. Pelo tratado, o Irã aceitaria reduzir o
enriquecimento de urânio a níveis seguros em troca do alívio das sanções
internacionais.
Khamenei, entretanto, disse que
seu país não tem pressa pelo retorno dos EUA ao acordo, mas exige a remoção
imediata das sanções. Ele descartou negociar seu programa nuclear ou o
envolvimento do país no Oriente Médio, como era exigido por Washington e outras
potências mundiais.
"Ao contrário dos EUA, o
envolvimento do Irã na região cria estabilidade e é voltado para evitar
instabilidade. Nosso envolvimento é definitivo e permanecerá", afirmou.
Preocupações com poderio militar
iraniano
Pouco antes do pronunciamento do
aiatolá, a Guarda Revolucionária Iraniana revelou a existência de uma base
subterrânea de mísseis em um local não determinado na região do Golfo Pérsico.
O Ocidente avalia o programa de
mísseis iraniano como uma ameaça à estabilidade na região e também como um
possível mecanismo para transporte de armas nucleares, caso o país venha a
desenvolvê-las.
O país possui um dos maiores
programas de mísseis em todo o Oriente Médio, que considera como um fator importante
para impedir agressões externas, além de ser uma força de retaliação contra os
EUA e outros adversários na região, no caso de uma guerra.
Noticia: dw.com
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