segunda-feira, 4 de maio de 2020

Os impactos da pandemia em Berlim


Os impactos da pandemia em Berlim
Menos carros, menos poluição e alterações no consumo de água e energia elétrica são registrados na capital alemã. Coronavírus também promoveu pequena revolução na infraestrutura para ciclistas.
Com coronavírus, muitos berlinenses passaram a se locomover de bicicleta, e ciclovias foram ampliadas



A pandemia de covid-19 pegou o mundo de surpresa. Medidas restritivas, como o isolamento social e o fechamento do comércio, foram impostas em vários países para tentar conter o avanço do surto e evitar o colapso de sistemas de saúde.

Em pouco tempo, essas medidas trouxeram transformações ao meio ambiente, ao consumo de recursos e até ao próprio cotidiano de cidades. As primeiras imagens da redução da poluição atmosférica na China foram notícia no mundo inteiro no início de março.

Com menos carros circulando nas ruas e a queda abrupta do tráfego aéreo mundial, foram afetadas duas importantes fontes de emissões ligadas ao aquecimento global. Aos poucos, a redução da poluição atmosférica passou a ser observada no mundo inteiro. Em Berlim, nas últimas semanas, a qualidade do ar registrada em estações de medição foi avaliada como muito boa.

Outro tipo de poluição que foi reduzido e tem relação direta com o novo coronavírus é a sonora. Menos carros nas ruas, menos barulho. Estima-se que houve uma diminuição de 1,5 decibel (dB) no geral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição constante a ruídos que ultrapassam 55 decibéis é prejudicial à saúde, causando estresse, insônia, depressão e ainda doenças cardiovasculares. Em muitos locais de Berlim, esse nível era constantemente ultrapassado. O trânsito foi reduzido em de 30% nos horários de pico na cidade.

Mas não foi só no trânsito que a pandemia refletiu em mudanças. Uma queda de 10% no consumo de energia elétrica foi registrada na capital alemã. Essa diminuição está relacionada, sobretudo, ao fechamento de bares, espaços culturais e de hotéis, que abrigam centenas de milhares de visitantes.
Em relação ao consumo de água, a pandemia mudou o cotidiano dos berlinenses. O dia está começando uma hora mais tarde na cidade. Antes do coronavírus, o pico do consumo de água durante a semana era registrado às 7h40 e agora passou para as 8h50.

Para mim, porém, uma das maiores transformações promovidas pela covid-19 é, sem dúvida, a rápida proliferação das ciclovias. Em tempos de pandemia, muitos deixaram o transporte público de lado e passaram a usar a bicicleta para se locomover. Para garantir o distanciamento necessário, o governo local resolveu ampliar as ciclovias e deixá-las mais largas e seguras, separando-as das ruas com pedestais de sinalização.

Do dia para a noite, surgiram ciclovias tão sonhadas por ciclistas: espaçosas e com uma barreira física que impede que automóveis invadam esse espaço. Outras foram demarcadas. Autoridades afirmam que a expansão da infraestrutura para bicicletas é inicialmente temporária, vigorando até o fim da pandemia.

A questão se essa transformação será mantida posteriormente, no entanto, está em aberto. Da mesma forma que também não é possível saber como esse período pode resultar em mudanças nos nossos atuais estilos de vida ou ainda se pode aumentar a consciência mundial em relação à nossa forma de lidar com a natureza.

A pandemia, porém, mostrou que sistemas estão hábeis a promover grandes transformações em pouco tempo e a nossa capacidade de adaptação a períodos difíceis. Com este momento histórico, eu sinceramente espero que as novas ciclovias tenham chegado para ficar.




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Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter @clarissaneher

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