Os
impactos da pandemia em Berlim
Menos
carros, menos poluição e alterações no consumo de água e energia elétrica são
registrados na capital alemã. Coronavírus também promoveu pequena revolução na
infraestrutura para ciclistas.
Com coronavírus, muitos berlinenses passaram a se locomover de bicicleta, e ciclovias foram ampliadas |
A
pandemia de covid-19 pegou o mundo de surpresa. Medidas restritivas, como o
isolamento social e o fechamento do comércio, foram impostas em vários países
para tentar conter o avanço do surto e evitar o colapso de sistemas de
saúde.
Em
pouco tempo, essas medidas trouxeram transformações ao meio ambiente, ao
consumo de recursos e até ao próprio cotidiano de cidades. As primeiras imagens
da redução da poluição atmosférica na China foram notícia no mundo inteiro
no início de março.
Com
menos carros circulando nas ruas e a queda abrupta do tráfego aéreo mundial,
foram afetadas duas importantes fontes de emissões ligadas ao aquecimento
global. Aos poucos, a redução da poluição atmosférica passou a ser observada no
mundo inteiro. Em Berlim, nas últimas semanas, a qualidade do ar registrada em
estações de medição foi avaliada como muito boa.
Outro
tipo de poluição que foi reduzido e tem relação direta com o novo coronavírus é
a sonora. Menos carros nas ruas, menos barulho. Estima-se que houve uma
diminuição de 1,5 decibel (dB) no geral. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a exposição constante a ruídos que ultrapassam 55 decibéis é
prejudicial à saúde, causando estresse, insônia, depressão e ainda doenças
cardiovasculares. Em muitos locais de Berlim, esse nível era constantemente
ultrapassado. O trânsito foi reduzido em de 30% nos horários de pico na cidade.
Mas não
foi só no trânsito que a pandemia refletiu em mudanças. Uma queda de 10% no
consumo de energia elétrica foi registrada na capital alemã. Essa diminuição
está relacionada, sobretudo, ao fechamento de bares, espaços culturais e de
hotéis, que abrigam centenas de milhares de visitantes.
Em
relação ao consumo de água, a pandemia mudou o cotidiano dos berlinenses. O dia
está começando uma hora mais tarde na cidade. Antes do coronavírus, o pico do
consumo de água durante a semana era registrado às 7h40 e agora passou
para as 8h50.
Para
mim, porém, uma das maiores transformações promovidas pela covid-19 é, sem
dúvida, a rápida proliferação das ciclovias. Em tempos de pandemia, muitos
deixaram o transporte público de lado e passaram a usar a bicicleta para se
locomover. Para garantir o distanciamento necessário, o governo local
resolveu ampliar as ciclovias e deixá-las mais largas e seguras, separando-as
das ruas com pedestais de sinalização.
Do dia
para a noite, surgiram ciclovias tão sonhadas por ciclistas: espaçosas e com
uma barreira física que impede que automóveis invadam esse espaço. Outras foram
demarcadas. Autoridades afirmam que a expansão da infraestrutura para
bicicletas é inicialmente temporária, vigorando até o fim da pandemia.
A
questão se essa transformação será mantida posteriormente, no entanto, está em
aberto. Da mesma forma que também não é possível saber como esse período pode
resultar em mudanças nos nossos atuais estilos de vida ou ainda se pode
aumentar a consciência mundial em relação à nossa forma de lidar com a
natureza.
A
pandemia, porém, mostrou que sistemas estão hábeis a promover grandes
transformações em pouco tempo e a nossa capacidade de adaptação a períodos
difíceis. Com este momento histórico, eu sinceramente espero que as novas
ciclovias tenham chegado para ficar.
--
Clarissa Neher é jornalista da DW
Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint
Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre,
mas continua sexy. Siga-a no Twitter @clarissaneher
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