Carne
Fraca: PMDB e PP receberam propinas do esquema de corrupção
por Deutsche Welle — publicado 17/03/2017 17h41
Doadores
de campanhas eleitorais, frigoríficos JBS e BRF são investigados na maior ação
da história da PF
Nelson
Almeida / AFP
BRF:
enrolada na Justiça
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Por
Jean-Philip Struck
A Polícia Federal deflagrou nesta
sexta-feira 17 a maior ação ostensiva de sua história. Mil e cem agentes da
corporação cumpriram 309 mandados – entre eles 27 de prisão preventiva – em
sete estados. Batizada de Carne Fraca, a operação apura o pagamento de
propinas para funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) e esquemas de adulteração de alimentos.
Na mira estão as maiores empresas
do setor, como a JBS e a BRF, e mais três
dezenas de frigoríficos menores. Os responsáveis pela operação, baseados em
Curitiba, apontaram que as propinas envolveram políticos do PMDB e do PP – mas
evitaram divulgar nomes.
"Dentro da investigação
ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era revertido para
partido político. Já foi falado ao longo da investigação sobre dois partidos:
PP e PMDB", disse o delegado Maurício Moscardi Grillo, que até mês passado
coordenava a força-tarefa da Lava Jato.
As ações dos agentes ocorreram em
São Paulo, no Distrito Federal, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do
Sul, em Minas Gerais e em Goiás. Os investigadores apontam que funcionários do
MAPA recebiam propina para atuar em favor de frigoríficos. Ao todo, 20
funcionários públicos tiveram a prisão decretada.
Validade e putrefação
Algumas vezes a propina servia para
que eles ignorassem violações sanitárias, como a venda de carne com data de
validade vencida e uso de produtos químicos para adulterar os alimentos e a
presença de materiais estranhos em carnes.
Um frigorífico menor de
Curitiba, chamado Peccin, foi acusado de usar frango como substituto
de carne bovina em diversos produtos e de usar substâncias cancerígenas em altas
doses para maquiar o estado de putrefação das carnes. Segundo o delegado
Grillo, parte dos alimentos adulterados foi fornecido para alunos de escolas
públicas do Paraná.
"Inúmeras crianças de
escolas públicas estaduais estão se alimentando de merendas compostas por
produtos vencidos e estragados", disse.
Na decisão que expediu os
mandados, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de
Curitiba, disse que o caso é "estarrecedor". "O ministério foi
tomado de assalto por um grupo de indivíduos que traem reiteradamente a
obrigação de efetivamente servir à coletividade."
Políticos como alvo
Entre os presos pela operação
estão pessoas que desempenhavam altos cargos em superintendências do MAPA, como
Daniel Gonçalves Filho e Gil Bueno de Magalhães. O primeiro chefiou o órgão
responsável pela fiscalização no Paraná entre 2007 e 2016. O segundo,
desempenhava a função desde julho de 2016. Ambos foram apadrinhados por
deputados paranaenses do PMDB e do PP, entre eles os atuais ministros Osmar Serraglio
(Justiça) e Ricardo Barros (Saúde).
O ministro da Justiça Serraglio
apareceu em um dos grampos interceptados durante as investigações. Na ligação
ocorrida antes do peemedebista assumir a pasta, Serraglio discutiu a situação
de um frigorífico em Iporã (no oeste do Paraná, a base eleitoral de Serraglio)
com Gonçalves.
Durante o diálogo, Serraglio
manifesta preocupação com a situação do frigorífico, que corria o risco de ser
autuado. Gonçalves disse ao peemedebista que iria averiguar o caso.
Segundo a PF, Serraglio por
enquanto não está entre os investigados pela operação. Em nota, a assessoria do
Ministério da Justiça tentou tirar dividendos políticos do caso, afirmando que
a revelação mostra que o ministro não interferiu na ação da PF.
"Se havia alguma dúvida de
que o ministro Osmar Serraglio, ao assumir o cargo, interferiria de alguma
forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que
fala por si só. O ministro soube hoje, como um cidadão igual a todos, que teve
seu nome citado em uma investigação", disse o ministério.
Campanhas políticas
Além dos fiscais presos, três
executivos da BRF (antiga Brasil Foods) e dois da JBS tiveram a prisão
decretada. Segundo a PF, a BRF atuava junto ao MAPA para substituir fiscais que
fossem rigorosos por membros "da banda podre" do ministério. A
corporação afirma que a JBS agia da mesma forma.
As duas empresas são notórias
doadoras de campanhas políticas. A JBS – que controla as marcas Friboi e Seara
– foi promovida durante o governo Lula como "campeã nacional", junto
com outras grandes empresas como Oi e Eletrobras, e recebeu bilhões de
reais em empréstimos do BNDES.
Nas eleições 2014, a JBS foi a
maior doadora do país, tendo gastado 366,8 milhões de reais em campanhas
políticas. Dezesseis partidos receberam doações. A campanha à reeleição de
Dilma Rousseff recebeu 73,4 milhões da empresa. Seu adversário no segundo
turno, Aécio Neves (PSDB), recebeu 51 milhões de reais. A campanha de Serraglio
também recebeu 200 mil reais indiretamente da JBS, via diretório nacional do
PMDB.
registrado
em: Operação Carne Fraca PMDB
PP
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