Ser gay e muçulmano. Em
Berlim
A
Alemanha é considerada um país aberto em relação aos homossexuais. Uma campanha
informativa em Berlim tenta despertar a atenção de imigrantes jovens e suas famílias
para o assunto.
Cartazes
e painéis inusitados estão chamando a atenção nas ruas de Berlim. O que à
primeira vista poderia ser confundido com uma mera peça publicitária de jeans,
estampa com todas as letras: "Kai é gay. Murat também. Eles estão com a
gente. Sempre". Kai é um nome tipicamente alemão. Murat um típico nome
turco.
Desenvolvida
pela Federação Alemã de Gays e Lésbicas, a campanha tem como objetivo trazer a
discussão sobre o homossexualismo para dentro dos redutos de estrangeiros no
país, principalmente de turcos, que formam em Berlim uma comunidade com mais de
120 mil imigrantes. E exatamente entre os grupos de muçulmanos, a sexualidade
costuma ser um tema considerado tabu.
"Como
reagir?"
Embora
vivendo num país que não alimenta, via de regra, preconceitos contra o
homossexualismo, para muitos imigrantes "sair do armário" é com
freqüência problemático. Segundo Bali Saygili, porta-voz da Federação Alemã de
Gays e Lésbicas, a campanha de esclarecimento já surtiu efeitos.
Nos
primeiros dias, o escritório da organização recebeu uma série de telefonemas de
pessoas buscando informação. Tanto dos próprios jovens, quanto de familiares.
"Tivemos casos de pais nos dizendo 'meu filho acabou de me contar que é
gay, como reagir' ou outros perguntando como reaver o contato com o filho,
quebrado quando este assumiu seu homossexualismo", conta Saygili.
Os
doze mil cartazes e 50 painéis estão espalhados por várias regiões de Berlim,
em locais que incluem tanto pontos de encontro de turcos quanto postos policiais.
Erin Ünsal, da Associação Turca de Berlim e Brandemburgo, que também apóia a
campanha, diz que apesar do silêncio da comunidade turca em relação ao
homossexualsimo, a situação hoje é bem melhor do que era.
"Há
alguns anos, não se poderia nem falar sobre o assunto. O tema era um tabu
absoluto, mas tenho a impressão de que isso está melhorando. É claro que ainda
não é suficiente, mas a campanha tem ajudado a comunidade turca a se abrir. É
claro que há também críticas, mas tem havido muitas reações positivas",
observa Ünsal.
Dificuldades
para "sair do armário"
Cartaz
da campanha informativa: "Kai é gay. Murat também"
A
conduta de pais ou parentes em relação aos jovens homossexuais pode, em alguns
casos, levar até mesmo à depressão e ao suicídio, alertam especialistas. O
jovem Sahin, cidadão alemão de ascendência turca, é gay, embora sua família não
saiba.
"Às
vezes acho muito difícil fazer esse jogo, porque é simplesmente uma mentira. E
não sei quanto tempo ainda vou agüentar sem contar para minha família que sou
homossexual. Mas, na hora, acabo desistindo, pois meus familiares são muito
bitolados em suas atitudes. Na Turquia, o homossexualismo é omitido, embora, é
óbvio, exista. E meus pais vêm de uma região muito tradicional no país. É
difícil dizer a eles que o filho é homossexual", conta Sahin.
Vida
dupla
Os
organizadores da campanha acreditam que o esclarecimento a respeito do assunto
é de importância vital para as comunidades de imigrantes. Não apenas pelo
aspecto psicológico dos jovens homossexuais, mas principalmente para a própria
saúde destes, com freqüência desinformados a respeito de doenças sexualmente
transmissíveis.
"Um grande número de homens turcos leva uma
vida dupla. Alguns são até casados e vivem sua sexualidade em segredo, nas
noites", diz Birol, um turco que trabalha com grupos de imigrantes
infectados com o HIV. "A ligação com a Aids é um problema. Nós gostaríamos
que essas pessoas assumissem mais cedo o homossexualismo, mas esse não é o caso
da comunidade turca. Pois é óbvio: ser gay e ser muçulmano é bastante
problemático", conclui Birol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário